sábado, 27 de junho de 2009

Comprando uma câmera aqui e "lá fora"

Se você estivesse nos EUA e quisesse uma nova câmera, provavelmente pegaria o seu carro* e iria a uma loja da cadeia Tiger Direct ou outra similar, e lá encontraria quase qualquer coisa. E se lá ainda não encontrasse, iria para uma das lojas especializadas em fotografia (Adorama, Beach Camera, B&H Photo) e nessas encontraria realmente qualquer coisa em termos de fotografia. Ou compraria via eBay mesmo (versão norte-americana do MercadoLivre), que vende desde alfinete a urânio enriquecido... aham, nem tanto. Mas vende quase tudo que existe, de qualquer parte do mundo. Mas isso é "LÁ FORA".

No Brasil é um pouco diferente... você vai ao Ponto Frio ou às Lojas Americanas, e encontra coisa de uma dúzia de modelos, a maioria deles da Sony ou de marcas de pouca expressão, como Mitsuca. Nada contra a Sony, em absoluto. Mas você talvez já tenha entendido a questão... a questão é *opção*. E se alguma te agradou, você paga um preço consideravelmente maior do que pagaria no estrangeiro, isso por causa de nossos indigestos impostos. Parte desses (impostos de importação) são para proteger a indústria nacional, então vá lá. Mas e quanto ao produto nacional, qual a justificativa dos maiores impostos do mundo...? Alguém responde?

Isso cria uma situação ímpar no Brasil, pois as barreiras alfandegárias acabam estimulando o contrabando, que se torna um negócio interessantíssimo (leia-se lucrativo). A Sony, que citamos, concorre com a própria Sony, pois fabrica efetivamente câmeras na Zona Franca de Manaus, mas também é fortemente contrabandeada, e encontramos ambas as versões nas lojas, com nota e tudo. Logicamente a versão "criativamente importada" é vendida bem mais barato, mas você perde a garantia. E vale à pena pagar a mais pela versão nacional? Bem, se a máquina der defeito durante o período de garantia, valeu com certeza; senão, não. Há outras variáveis envolvidas, como o fato que a versão nacional gera empregos em Manaus e não no Vietnã, mas é difícil discutir com um desconto de 30% ou mais.

Mas e se o leitor ou leitora não quiser um dos modelos da Sony na loja, e preferir, por exemplo, um modelo da FujiFilm? Ou uma bateria *original* para sua câmera da Canon, ou pilhas recarregáveis híbridas de primeira linha? Ou encontrará apenas em lojas especializadas, como a Consigo e a Angel Foto em São Paulo (pagando aquele salgado preço Brasil por conta dos impostos escorchantes) ou não encontrará mesmo, exceto, talvez, no Mercado Livre. E neste último caso a procedência será, quase sempre, a "importação criativa", ou seja, contrabando.

Mas há opções, que você ainda não deve ter considerado. Não estou recomendando nenhuma, apenas reportando o que efetivamente existe por aqui:

  • Ir pessoalmente ao estrangeiro buscar o equipamento
Não vale à pena exceto se você fosse fazer a viagem de qualquer forma. É perfeitamente legal, desde que você declare ao voltar ao Brasil a câmera ou equipamento, e recolha os impostos que incidem *apenas* no que exceder U$ 500. Lógico que você pode optar por não declarar o equipamento e não recolher impostos, e no máximo pagará uma multa se for pego, além dos impostos. Ninguém vai preso.
  • Pedir pra um amigo trazer uma câmera para você em uma viagem ao estrangeiro
Idêntica à anterior, exceto que você está usando a cota de U$ 500 do seu amigo, né? Se ele puder fazê-lo, eu recomendo. Me traga um flash também que eu te pago depois. ;-)
  • Comprar *legalmente* de empresas estrangeiras que entregam no Brasil
O imposto é de 60%, incidindo sobre o valor do produto e do frete. Uma fortuna.
  • Usar empresas que fazem importação direta de empresas que não entregam no Brasil
Há muitas empresas estrangeiras que sequer entregam eletrônicos no Brasil (a Amazon.com é uma delas). Há empresas que compram destas lojas, como a Amazon, e lhe remetem então os produtos. Esse é um meio do caminho entre a legalidade e a ilegalidade. Essas empresas podem prometer que o produto chega sem impostos (pois eles às vezes não declaram o valor do produto de boa-fé), mas no final quem vai dizer se você vai pagar ou não será o humor do fiscal que inspecionar o seu pacote. Eu, pessoalmente acho arriscado, mas já li relatos de transações tanto bem quanto mal sucedidas deste tipo (faça sua própria pesquisa na Internet se ficar interessado); de um modo ou de outro você paga adiantado os valores relativos ao produto, frete e comissão no ato da compra, e se for o caso, paga os impostos aqui, quando o produto chegar.
  • Comprar de empresas estrangeiras que entregam no Brasil e recolhem impostos de forma "alternativa"
Não estou fazendo apologia a essa atividade, apenas relatando uma situação que realmente existe. Nesse caso, não se trata de um particular que contrabandeia um equipamento ou mais e revende aqui: há empresas que enviam qualquer eletrônico não muito grande para cá, e você recebe em casa, com segurança, a um preço inferior ao preço do produto mais os 60% de impostos previstos por lei. Portanto, mais caro de que lá fora, porém mais barato do que aqui. Tem que ter uma jogada, certo? Certo.
E que empresas são essas? Procure nos fóruns por aí e você encontrará. A coisa funciona mesmo.
  • Comprar um produto usado
Como o produto legalizado, especialmente se tratando de equipamento profissional (DSLRs, lentes, tripés, etc) chega a um preço impraticável aqui, vender o que não se quer mais no mercado de segunda mão torna-se um excelente negócio, pois a oferta é rarefeita, graças novamente aos impostos. Então você pode revender um equipamento usado aqui no Brasil por mais do que o preço que pagou por ele novo no exterior, com certeza. Há, além do onipresente MercadoLivre, ótimos fóruns de fotografia que tem seções de classificados, onde se consegue quase sempre preços muito bons. Eu participo do BrFoto, que tem uma ótima sessão de usados, onde já fiz bons negócios.
Foto: B&H Photo (leia-se a Meca dos fotógrafos), em Nova York / EUA. Foto por Scott Beale / Laughing Squid (foto sob a licença Creative Commons).

* Carro: Dispositivo sem o qual os norte-americanos adultos não se deslocam, responsável em grande parte pela degradação do meio-ambiente e pelo aquecimento global.


Observação: Esse post pode parecer um desabafo, e acho que é mesmo. Seria tão bom se pudéssemos comprar legalmente o equipamento que quiséssemos a um preço justo, sem sentir-nos compelidos a recorrer a contrabandistas, e simplesmente praticar essa maravilhosa arte que é a fotografia. Mas isso é só um sonho por hora, sem sinais de que vá mudar.


Bom, é isso aí. Até o próximo post!

Nenhum comentário:

Postar um comentário